Prática Sé
ia ou Coisa de Tupiniviking?
Quem circula no meio pagão nórdico, ou mesmo aqueles que apenas demonstram interesse pelo tema, rapidamente percebe o fenômeno crescente de pessoas adotando pseudônimos de inspiração viking em redes sociais, festivais, shows e encontros temáticos. É fácil encontrar nomes pomposos e extravagantes entre os membros dessas comunidades. Nomes como Ragnar e Björn são extremamente populares, impulsionados sobretudo pelo sucesso da série “Vikings”. Thor e Loki, por sua vez, ganharam destaque adicional graças ao universo cinematográfico da Marvel, aproximando ainda mais o mito da cultura pop contemporânea. Aos que curtem runologia, não é incomum encontra Völva, Freya, Runemal e nomes afins.
Além desses exemplos óbvios, há quem se arrisque em nomes de personagens menos conhecidos da mitologia nórdica, ou até mesmo busque palavras em nórdico antigo para tentar demonstrar maior autenticidade ou aprofundamento religioso. Porém, muitas dessas escolhas acabam resultando em composições questionáveis ou em combinações que fogem ao contexto histórico e linguístico, contribuindo para um cenário no qual a estética e o folclore moderno se sobrepõem à tradição real.
Quando essas escolhas de nomes vêm acompanhadas de trajes exagerados, comportamentos caricatos e uma exibição performática, surgem os “Tupinivikings” — figura já bem conhecida, geralmente abordada de modo jocoso pela própria comunidade. Esse fenômeno, que mistura entusiasmo, criatividade e, por vezes, desinformação, revela um aspecto curioso da religiosidade moderna e da busca contemporânea por identidade e pertencimento dentro do universo pagão germânico e nórdico.
Uma pergunta recorrente na comunidade do Germania Institut e durante o podcast Valhalla Que Eu Te Escuto é se faz sentido o uso de nomes "vikings" ou, em outras palavras, a adoção de nomes inventados baseados em personagens, deuses ou palavras traduzidas do nórdico antigo. Partindo de uma visão reconstrucionista da religiosidade nórdica e germânica, a resposta poderia ser bastante simples: na maioria dos casos, isso não faz sentido. E assim poderíamos encerrar o artigo.
Mas este tema merece uma reflexão mais aprofundada. Apesar de, à primeira vista, o uso desses nomes parecer uma questão trivial ou mesmo uma fonte de críticas dentro da própria comunidade pagã, ele toca em aspectos relevantes como a intolerância religiosa que muitos enfrentam, as dinâmicas de construção de identidade espiritual e cultural, e também os riscos do esoterismo superficial ou do charlatanismo. A tensão entre autêntico reencontro com a ancestralidade e a fantasia identitária é real e presente, especialmente em países como o Brasil, onde o paganismo nórdico ainda está em processo de consolidação.
Portanto, o artigo propõe-se a explorar esse fenômeno sob múltiplas perspectivas, respondendo de maneira detalhada e equilibrada à pergunta que é muito comum em nossos círculos pagãos: faz sentido adotar nomes “vikings”? Convidamos o leitor a viajar junto nessa análise, para além de visões superficiais, buscando compreender o porquê dessa prática e o que ela revela sobre os desafios e os desejos dos pagãos nórdicos contemporâneos no Brasil e no mundo.
Dissecando o tema
Para compreender a fundo por que tantas pessoas optam por adotar pseudônimos pseudo-nórdicos em ambientes pagãos, é preciso analisar as principais motivações e implicações dessa escolha dentro do contexto brasileiro e internacional.
Um dos motivos mais recorrentes é a proteção da identidade. Em sociedades onde o paganismo ainda enfrenta preconceito ou incompreensão, assumir um nome alternativo inspirado na mitologia nórdica serve como uma barreira de segurança. Assim, é possível posicionar-se sobre temas religiosos nas redes sociais ou em comunidades online sem expor o verdadeiro nome, protegendo-se contra discriminação no ambiente profissional e familiar. No Brasil, onde religiões não-cristãs frequentemente sofrem intolerância, a criação de um pseudônimo viking é uma forma eficiente de preservar a integridade pessoal e a liberdade de expressão religiosa.
Muitos iniciantes no paganismo nórdico optam por adotar pseudônimos pseudo-nórdicos movidos principalmente pela estética e pelo desejo de se sentir parte do grupo. O uso de nomes inspirados em personagens, deuses ou termos do nórdico antigo pode parecer, à primeira vista, uma maneira legítima de demonstrar afinidade com a tradição, pois transmite uma imagem “autêntica” em redes sociais, fóruns e eventos presenciais. Esses nomes acabam funcionando como uma “porta de entrada” simbólica e superficial para novos membros, oferecendo uma sensação imediata de acolhimento e pertencimento ao universo pagão nórdico.
Apesar das vantagens, a adoção de nomes pseudo-nórdicos está longe de ser consensual. Para alguns, ela representa uma desconexão da identidade original e até uma idealização fantasiosa da tradição viking, ignorando aspectos fundamentais como a ancestralidade real e os fundamentos históricos da religião escandinava. Entre praticantes mais experientes, há críticas ao uso superficial desses nomes, que podem ser vistos como um artifício para criar uma aura de autoridade, alimentando egos e, em alguns casos, abrindo espaço para o charlatanismo. É relativamente comum encontrar pessoas que, após assumirem pseudônimos grandiosos, buscam notoriedade, vendem cursos, leituras de runas ou oferecem consultorias mágicas de caráter duvidoso, tirando proveito da simbologia nórdica para fins pessoais.
Muitos praticantes, no entanto, enxergam no nome pseudo-nórdico uma ferramenta ritualística e mágica. Para aqueles alinhados com tradições esotéricas, o nome não é um mero rótulo, mas um símbolo que carrega poder, intenções e conexões com arquétipos divinos e heróicos. Assim, a escolha de um nome passa a integrar práticas de identidade mágica, proteção espiritual e adoção de persona ritual, inspirado em padrões comuns a diversas escolas ocultistas historicamente. Esse tipo de apropriação ritualística aparece também em práticas místicas modernas, conferindo sentido prático e simbólico ao pseudônimo dentro da jornada espiritual do indivíduo.
Vamos explorar cuidadosamente cada um desses temas e ver o que podemos aprender eles.
Proteção da Identidade e Privacidade
No Brasil, a forte influência do cristianismo ainda molda valores, comportamentos e julgamentos sociais, impactando profundamente aqueles que seguem religiões consideradas "minoritárias" ou fora do padrão hegemônico. Mesmo em ambientes nos quais as crenças cristãs não deveriam definir relações ou limites de expressão, persiste um pano de fundo ético e moral que pode gerar desconforto, preconceito e discriminação contra pessoas que se identificam publicamente como pagãs.
Esse contexto social torna especialmente delicada a exposição de práticas e crenças do paganismo nórdico. Muitos adeptos sentem receio de revelar sua religião a familiares, colegas de trabalho ou empregadores, temendo perder conexões sociais, oportunidades profissionais ou mesmo se tornar alvo de hostilidades. Em artigos anteriores, como o que abordou o tema do blót, já discutimos como esses desafios atravessam a vivência cotidiana do pagão contemporâneo.
É nessa conjuntura que o uso de pseudônimos "vikings" ou nomes inspirados na tradição nórdica se apresenta como uma estratégia legítima e poderosa. Ao criar uma identidade alternativa para atuar nas redes sociais e espaços coletivos, o praticante consegue preservar sua vida privada, proteger relações familiares e profissionais, e mesmo assim participar ativamente da comunidade pagã. Esses “personagens” funcionam como uma ponte entre o desejo de pertencimento religioso e a necessidade real de proteção, permitindo vivenciar e divulgar a fé sem riscos imediatos de perseguição.
Caso essa seja sua situação, é importante ressaltar que, independentemente de debates históricos sobre autenticidade, preservar sua segurança e bem-estar deve ser prioridade. O uso do pseudônimo é não apenas compreensível, mas saudável, enquanto a sociedade ainda caminha em direção a maior tolerância e respeito pela diversidade religiosa. O anseio é que, futuramente, praticantes do paganismo possam se expressar livremente, sem medo, e encontrar um espaço seguro para afirmar plenamente sua identidade espiritual.
Sentimento de Pertencimento
O paganismo nórdico e germânico contemporâneo enfrenta uma carência significativa de fontes confiáveis, especialmente em língua portuguesa, que expliquem sua mitologia de maneira aprofundada e tratem de suas práticas religiosas com precisão. Esse cenário representa uma barreira considerável para iniciantes, que muitas vezes se vêem diante de lacunas informativas e falta de orientação concreta para seu desenvolvimento espiritual. Esse desafio é intensificado pelo fato de que a maioria dos recursos acessíveis (a exemplo das Eddas, sagas ou obras acadêmicas) não está facilmente disponível, ou apresenta obstáculos linguísticos e históricos para a compreensão completa do universo religioso germânico.
No entanto, o universo da mídia moderna opera como uma ponte, desempenhando papel fundamental na atração de novos adeptos. Séries, filmes e músicas fomentam o fascínio em torno da estética "viking", apresentando um povo idealizado como bravo e explorador, portador de valores ancestrais e símbolos impactantes como o Mjölnir. O apelo visual das espadas, batalha, e do beber em chifres (drinking horns), bem como o hábito de gritar “skal” com amigos, compõem um imaginário extremamente atrativo, ainda que, muitas vezes, distante da historicidade.
Naturalmente, dentro dessa atmosfera, é comum que o recém-chegado se sinta estimulado a adotar um pseudônimo “viking”, optando por nomes icônicos como Ragnar, Odin, Thor, Freyja ou Lagertha. Inicialmente, essa prática pode funcionar como uma estratégia eficaz de inclusão e identidade grupal, permitindo que o novato se sinta parte da comunidade e abrace uma nova identidade em busca de acolhimento. Psicologicamente, esse vínculo facilitado pela estética pode representar um elemento positivo, ao amenizar o sentimento de isolamento.
Porém, essa sensação de pertencimento, alicerçada somente na estética, costuma esvaziar-se com o tempo. Em muitos casos, a superficialidade dessa ligação pode culminar em frustração e abandono da prática religiosa, quando o praticante percebe que a profundidade espiritual que busca não se sustenta apenas na aparência. Por outro lado, há aqueles que, motivados após o primeiro contato, optam por estudar a fundo as bases, valores e pressupostos do paganismo nórdico, enxergando a religiosidade para além do visual.
Cabe ressaltar que um dos pilares essenciais do paganismo nórdico é o respeito incondicional à ancestralidade. Desprezar o próprio nome (e, principalmente, o sobrenome, que carrega a herança e o legado dos antepassados) pode representar uma ruptura desse valor fundamental. Para muitos iniciantes, esse é um conceito inicialmente distante, o que potencializa a tendência de recorrer a nomes “viking” por mera identificação estética. Nesse contexto, é importante conduzi-los gradualmente ao entendimento do significado real da ancestralidade, explicitando que a identidade construída por gerações merece reconhecimento e honra.
Visando preencher as lacunas informativas e proporcionar suporte real a esses iniciantes, iniciativas como as do Germania Institut e do podcast Valhalla Que Eu Te Escuto têm promovido a divulgação e o aprofundamento do estudo sobre religiosidade e mitologia nórdica e germânica. Esses esforços são cruciais para receber novos praticantes e apresentar a essência da tradição, fornecendo o suporte espiritual e filosófico que toda religião deve oferecer.
Fantasia e o Risco do Charlatanismo
Ao contrário dos iniciantes que recorrem ao pseudônimo “viking” por desconhecimento das bases da religião pagã nórdica, existe uma parcela da comunidade que utiliza subterfúgios com o objetivo de conquistar vantagens pessoais. Nesse contexto, a adoção de nomes vikings extravagantes se torna ferramenta de autoafirmação e serve para construir artificialmente uma aura de autoridade diante de leigos e novatos. É justamente essa atmosfera de “fantasia” que pode abrir espaço para práticas questionáveis e, em alguns casos, para o charlatanismo.
Após a conquista de certa visibilidade e respeito, não é raro que essas figuras se posicionem como “especialistas” e passem a oferecer cursos, leituras de runas e outros serviços terapêuticos ou esotéricos, geralmente cobrando por tais atividades. Vale ressaltar: monetizar a dedicação e o conhecimento dentro de uma tradição religiosa é legítimo e muitas vezes necessário para sustentar projetos, rituais e até templos. O problema nasce quando a suposta autoridade é construída sobre bases frágeis, quando não se possui real domínio sobre a espiritualidade nórdica, e, pior ainda, quando o objetivo é meramente financeiro, caracterizando fraude ou mesmo charlatanismo.
A fantasia no uso de pseudônimos costuma incluir nomes grandiosos, frequentemente inspirados em deuses, heróis lendários ou termos do nórdico antigo — muitas vezes escolhidos ou traduzidos de forma equivocada. É comum também o acréscimo de títulos pomposos, como “jarl” (líder tribal), mesmo sem qualquer respaldo coletivo, ou a mistura de títulos e elementos de outras tradições pagãs de maneira caricatural, o que empobrece ainda mais a autenticidade da proposta religiosa. Casos extremos exibem misturas de nomes falsamente nórdicos com referências indígenas brasileiras, celtas ou afro-brasileiras, compondo uma colcha de retalhos esotérica (ou esquisotérica) sem fundamento nem respeito às culturas envolvidas.
Para quem realmente se aprofunda e estuda a fundo o paganismo nórdico, ou até mesmo qualquer tradição com seriedade, todo esse espetáculo de nomes espalhafatosos e títulos fantasiosos exerce o efeito oposto ao desejado: desperta suspeita e desconfiança. Costuma ser muito mais confiável ouvir alguém que compartilha seu saber usando o próprio nome do que aqueles que se escondem atrás de personagens mitológicos. Pessoalmente estou mais inclinado a ouvir o que um João da Silva ou uma Maria dos Santos quer falar do que de um “Druida Ragnar Odinson”.
Diante disso, é fundamental um alerta aos novos praticantes: desconfiem de autointitulados especialistas e intermediários do divino que utilizam nomes vistosos e posturas messiânicas para impressionar. Infelizmente, há quem utilize a “fantasia viking” apenas para obter vantagem pessoal, e estar atento a esses riscos é parte fundamental da maturidade religiosa e do desenvolvimento de uma comunidade pagã nórdica saudável e autêntica.
Expressão Ritualística e Mágica
Um dos elementos mais fascinantes de qualquer atividade espiritual é o aspecto lúdico e criativo. Se adotar um nome baseado em personagens vikings ou em palavras do nórdico antigo for algo que traz alegria e espontaneidade à prática religiosa, não há problema algum nisso. A diversão, afinal, faz parte do processo saudável de envolvimento com qualquer caminho espiritual. Mas há ainda mais profundidade nessa prática, principalmente quando ela é orientada por intenções mágicas, simbólicas ou inspirada em tradições esotéricas consolidadas.
Diversas ordens e sociedades iniciáticas do esoterismo ocidental, como a Hermetic Order of the Golden Dawn, a Ordo Templi Orientis (O.T.O.) e a própria maçonaria, utilizam-se de nomes mágicos ― conhecidos como motes ― para seus membros. Esses nomes mágicos cumprem múltiplas funções: primeiramente, protegendo a identidade dos participantes durante rituais ou estudos; e, em segundo lugar, diferenciando a persona mundana da persona esotérica, criando um campo simbólico próprio para a vivência ritualística. Ou seja, enquanto demandas cotidianas se resolvem com o nome civil, a atuação mágica e espiritual é realizada sob um nome escolhido especificamente para esse propósito.
Outro objetivo fundamental dos nomes mágicos é servir como veículo de intenção. O nome escolhido pode representar um ideal, qualidade ou aspecto que o praticante deseja desenvolver em si mesmo durante a trajetória iniciática. Por exemplo, Aleister Crowley adotou o nome “To Mega Therion” ao ascender ao grau de Magus em sua ordem; esta expressão, que significa "A Grande Besta" em grego, ressignificava a própria persona mágica de Crowley e sua função simbólica dentro do sistema thelêmico. Eliphas Lévi, famoso ocultista francês, também optou por um pseudônimo com significado alquímico e místico ao invés de seguir apenas com seu nome natural. Em muitos sistemas, é comum até trocar de nome mágico sempre que uma fase é superada ou um objetivo espiritual é atingido.
É nessa perspectiva que a construção de um nome “viking” ganha outra dimensão: ao invés de ser apenas uma escolha divertida ou puramente estética, transforma-se em ferramenta para o trabalho interior, manifestação de vontades e arquétipos e sinalização de caminhos a serem trilhados. Ao escolher conscientemente um nome rúnico ou nórdico alinhado com suas intenções e desafios, o praticante adota algo de útil e que vai muito além apenas da diversão.
Outra ideia, dessa vez mais próxima a tradição nórdica, existe uma tradição para a criação de nomes mágicos ou nomes rúnicos dentro da perspectiva da Runeguild de Edred Thorsson (Stephen Flowers), baseada no uso de códigos rúnicos, métodos de criptografia (como branch runes e tent runes), além da correspondência simbólica e energética de cada runa para a construção do nome. A Runeguild é uma confraria ou irmandade internacional dedicada ao estudo e à prática dos mistérios rúnicos, compreendidos tanto em sua dimensão esotérica quanto exotérica, com foco no desenvolvimento pessoal e cultural. Esta organização busca reviver e aprofundar o conhecimento da runologia (o estudo das runas) utilizando os métodos mais rigorosos intelectuais e práticos disponíveis, integrando pesquisa acadêmica com tradições mágicas e místicas germânicas.
Edred Thorsson detalha que nomes rúnicos podem ser criados empregando métodos como:
Códigos Numéricos: Cada runa do Futhark possui posição específica (por ættir e ordem). Por exemplo, a runa Hagalaz seria indicada pela fórmula 1:2 (primeira ætt, segunda runa).
Branch Runes (Kvistrúnar): Estrutura visual baseada em ramificações, onde ramificações laterais representam traços das runas de um nome.
Tent Runes (Tjaldrúnar): Cada runa é indicada por tentáculos/disposições ao redor de um eixo central ou círculo, formando visualmente o nome. A leitura geralmente é feita no sentido horário, começando da esquerda, tornando o nome um segredo mágico visual.
A seguir estão listados alguns passos baseados nas obras do Edred de como criar um nome rúnico.
Escolha do Nome Base: O nome pode ser tanto um nome profano quanto um nome inspirado (palavra ou conceito que deseje personificar magicamente).
Transliteração: Transcreva o nome para runas, usando o alfabeto Futhark Antigo (preferido pela Runeguild).
Codificação: Aplique métodos como tent runes para desenhar o nome de forma cifrada; ou, utilize combinações de runas que expressem o significado mágico pretendido.
Significado Esotérico: Considere os valores simbólicos de cada runa escolhida para garantir que o nome carrega a energia ou intenção desejada.
Consagração: Finalize o processo através de ritual próprio, entoando galdr ou realizando práticas mágicas tradicionais, selando o nome na essência individual.
Thorsson explora esses métodos especialmente em “Futhark: A Handbook of Rune Magic”, indicando que antigas guildas de mestres rúnicos codificavam seus nomes e palavras para esconder o verdadeiro poder e significado dos gestos mágicos. Por fim, tanto para nomes pessoais quanto para trabalhos mágicos, ele incentiva que o praticante trace suas próprias interpretações e combine runas coerentes com a intenção mágica desejada, mantendo fidelidade à tradição e à energia das runas utilizadas.
Portanto, essas são algumas sugestões para criar seu próprio nome “viking”, que unam a diversão à intenção significativa e até mesmo algum um conhecimento pagão legítimo. Tanto os métodos tradicionais utilizados por sociedades esotéricas quanto as práticas específicas da Runeguild oferecem alternativas válidas para a construção de um nome que seja ao mesmo tempo simbólico, autêntico e pessoalmente relevante.
Conclusão
É importante esclarecer que a adoção de nomes ou pseudônimos “vikings” ou similares não era uma prática histórica presente entre os povos germânicos e nórdicos durante as eras em que o paganismo era sua religião dominante. Naquela época, o nome e especialmente o sobrenome — que muitas vezes indicavam profissões (comum na Alemanha) ou a filiação, como os sufixos -son e -dottir usados pelos nórdicos — eram fontes de orgulho e identidade. Esses nomes representavam a expressão do indivíduo dentro da tribo, seu relacionamento com os deuses e, sobretudo, sua ancestralidade, um valor de extrema relevância para essas antigas sociedades.
Em última análise, o ideal é carregar o próprio nome com orgulho, reconhecendo nele a herança de sua família e de todos os ancestrais cuja trajetória permitiu que a existência atual fosse possível. Adotar e honrar o próprio nome é uma atitude profundamente alinhada com o espírito das antigas culturas nórdicas e germânicas, para as quais o nome representava não apenas um indivíduo, mas todo um legado de linhagem, honra e ancestralidade.
Sempre que possível, utilizar o próprio nome é uma forma autêntica de caminhar em sintonia com o antigo caminho pagão, reafirmando seu lugar na história viva de sua família e preservando, com respeito, a memória de quem veio antes. Essa escolha reflete maturidade, respeito pela tradição e acima de tudo, orgulho legítimo pelas raízes e pela identidade que se carrega — princípios que permanecem
Portanto, é fundamental esclarecer que o uso contemporâneo de pseudônimos “vikings” é uma prática inteiramente moderna, desvinculada das tradições originárias da religião nórdica e germânica. Para quem optar por adotar um nome “viking” seja por diversão, proteção pessoal ou expressão espiritual, é essencial ter consciência dessa origem recente e das motivações por trás da escolha.
É verdade que esses nomes, em alguns casos, podem atrair aspectos negativos, seja por conta do uso indevido por charlatões no meio pagão, seja pelas situações engraçadas que podem surgir ao adotar nomes incorretos ou fora de contexto. Contudo, o mais importante permanece sendo a realização pessoal e o prazer no caminho trilhado.
Nesse sentido, olhar para sistemas estruturados, como a Runeguild de Edred Thorsson ou outras ordens esotéricas que possuem metodologias específicas para a escolha de nomes mágicos ou pseudônimos, pode agregar valor, profundidade e significado ao processo, transformando-o numa prática integrada ao desenvolvimento espiritual.
Por fim, especialmente para os iniciantes e novos membros da comunidade pagã nórdica e germânica, fica o alerta e o convite: não há qualquer obrigação de criar um pseudônimo “viking” para ser aceito ou fazer parte da comunidade. A autenticidade e a sinceridade na prática são muito mais valorizadas do que nomes ou títulos. Sejam vocês mesmos, com seus próprios nomes, e construam sua jornada com respeito, estudo e dedicação. Essa é a verdadeira essência da tradição que buscamos reviver e honrar.
Excelente artigo! Quando comecei, eu achava incrível esses nomes "vikings" dos grupos, até cheguei a escolher um para mim, mas depois comecei a me sentir ridículo usando-o e desisti. 😅 Mas isso porque eu escolhi um nome apenas traduzindo uma palavra para o islandês no Google Tradutor, sem base histórica, mágica ou com intenção de proteger a minha identidade; fiz isso por mero modismo e me arrependi. Pena não ter me deparado com um artigo como esse naquela época. Parabéns mais uma vez!
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