Pular para o conteúdo principal

Como Fazer Um Blot Solitário



Tradução e adaptação do texto de Robert Saas pelo professor Leonardo Hermes: https://www.aldsidu.com/post/how-to-do-solitary-ritual 

Uma das maiores dificuldades daqueles que buscam seguir as tradições dos germânicos antigos é como proceder com algum ritual para honrar os deuses ou antepassados. Com isto em mente estamos trazendo um guia de como fazer um Blot solitário. 

Trouxemos o passo-a-passo para que você possa fazer um ritual historicamente fidedigno e com significado. 

Muitos grupos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, utilizam sangue nos seus Blots, já que esta é a origem da palavra “blood”, sangue em inglês. Contudo, entendemos que isto pode ser chocante ou um tabu muito grande para a maioria das pessoas. Lembre-se que quando se utiliza sangue, normalmente o animal é abatido e depois assado. Qualquer um que goste de churrasco e tenha ressalvas em utilizar sangue em um Blot precisa rever a sua visão do que é um Blot. 

Contudo, sangue não é a única forma historicamente comprovada de oferenda aos Deuses ou antepassados. Bebidas alcoólicas eram utilizadas com frequência como oferenda aos deuses. Então a utilização de vinho, cerveja, hidromel é historicamente correta. 

Atualizado 6/dez/2021

Itens necessários: 

Haerg: Um altar pagão histórico feito de pedras. 

Tigela para o Blot: Uma tigela, de preferência de madeira, utilizada apenas para o ritual. 

Hlaut-tein: Galho tirado de uma árvore, pequeno o suficiente para caber em uma tigela. 

Lascas de madeira/material para fogo

Um incensário ou algo para segurar o fogo – uma vela ou uma tocha podem ser usadas.

Algo para acender o fogo.

Pré-ritual: 

1.  Organize o Haerg (altar).  

2.  Tenha o seu método para acender o fogo preparado.

3.  Tenha o seu vinho/hidromel /cerveja/sangue na Tigela do Blot junto do Hlaut-tein.

4.  Coloque os seus weofods (estátuas) no altar.

Ordem:

1.  Criação do Espaço Sagrado com Fogo.

Eu utilizo um incensário de metal com uma alça, óleo e lascas de madeira. Isto cria um fogo que dura por cerca de 10 minutos. Velas, lamparinas à óleo, tochas, xícaras de chá funcionam também. Eu acendo o fogo, caminho em um círculo até o Haerg (altar), e faço uma prece para Thunaer, Uuden e Sassnoth para marcar o espaço sagrado. Você pode utilizar qualquer deidade germânica na sua prece para criar o Espaço Sagrado com fogo. Não esqueça de caminha em volta de todos no ritual. Eles devem ser incluídos no Espaço Sagrado. Uma vez que o Espaço Sagrado estiver criado, não deixe nada invadi-lo até que o ritual esteja terminado. 

2.  Uma Bede (prece) para os Deuses, Deusas e Ancestrais da sua escolha. 

Este passo é simples. Simplesmente faça uma prece para os Deuses, Deusas e Ancestrais. Ela pode ser por escrito ou feita na hora, o que for melhor para você. Para o ritual de Noites de Inverno, eu faço adoração às Divindades/Ancestrais/Wights para um próspero ano novo. (Vide Ynglinga Saga, capítulo 8). 

3.  O Blot (oferenda): com o líquido na sua Tigela de Blot (seja sangue conseguido do açougue, ou de um animal que você tenha abatido ou substituído por uma bebida alcoólica), erga a sua Tigela de Blot e o Hlaut-tein. Mergulhe o Hlaut-tein na Tigela, e com o mesmo borrife as Haerg, depois a você e qualquer pessoa com você. Você irá mergulhar o Hlaut-tein quantas vezes forem necessárias. Eu pessoalmente faço cada pessoa separadamente. Meu filho mais velho adora Thunaer, então enquanto eu borrifo ele eu digo “Uuis thut hel Thunaer” (um cumprimento em saxão antigo). Você pode dizer “Hail Thor” ou qualquer Deus ou Deusa da sua escolha. Quando eu borrifo a minha estátua de Sassnoth, eu digo “Hail Sassnoth”, etc.

Muitos pagãos não abatem a sua própria comida, mas fazem compras no supermercado. Pode-se utilizar vinho, cidra, hidromel ou cerveja para substituir o sangue. Alguns, pedem um pouco de sangue para o açougueiro como se para cozinhar. Se você abater a sua própria comida, pegue o sangue na sua Tigela de Blot. 

4.  Apresentação do Blot. Seja como for que você obteve o blot, ele deve ser compartilhar com os Deuses. Utilize o Hlaut-tein para borrifar os Haerg até que a Tigela de Blot esteja vazia. Em um Blot, o sangue é o presente para os Deuses. 

5.  Bede (prece) de fechamento. Faça uma prece para o(s) Deus(es) da sua escolha. 

6.  Coma a comida: Apesar de o ritual ser feito em céu aberto, a sua casa é o seu Salão. Desfrute a comida. 

7.  Sumble. Nota, se você for um praticante solitário, deixe o Sumble de fora. Se você for como eu, que tem uma esposa e crianças pagãs, faça o Sumble em família. Para mais detalhes confira nosso post sobre como fazer um Sumble. 


FONTES

1. Criação do Espaço Sagrado com fogo – tirado de passagens das Sagas: 

Primeiramente, quando uma pessoa comprava uma casa ou terra, ela criava um espaço sagrado quando tomava posse da nova casa ou terra. Existe inclusive uma Saga Nórdica cujo nome “Landnámabók” significa “Livro de Posse de Terras”. 

Eyrbyggja Saga: “(…)Depois disso, Thorolf andou com fogo por sua terra, desde o rio Staff no oeste até o rio – que agora é chamado de Rio de Thorolf – no leste, e assentou seus companheiros de navio ali.”

Landnámabók: “Lá ele chamou de Svertingsstöðum. Lá ele construiu um templo. Jörundr carregou fogo em volta daquela terra e depois construiu o seu templo”. 

A Heliand em Saxão Antigo: “O velho sábio então trouxe fumaça divina do templo e caminhou em volta do altar com o seu incensário, servindo poderosamente, cumprindo devotamente a sua tarefa; desempenhando o Ritual de Deus com vontade e uma mente limpa”.  Saxões pagãos criavam espaços sagrados caminhando em volta da área enquanto carregavam fogo ou borrifando sangue de um Blot (sacrifício animal). Nesta cena, Zacarias está queimando fumaça sagrada (fogo) criando um espaço sagrado na maneira saxão pagã em um altar a céu aberto. Altares saxões ficavam a céu aberto em um arvoredo. 

2. Oferenda e Altar:

O melhor exemplo histórico vem da Saga de Hakon, O Bom, capítulo 16: “Era um costume antigo, de que quando haveria um sacrifício, todos os bondes deveriam vir ao lugar onde o templo estivera e trazer com eles tudo o que precisassem para duração do festival do sacrifício. Todos os homens traziam cerveja consigo para o festival; e todos os tipos de gado, assim como cavalos, que eram abatidos, e o sangue que saía deles era chamado de “hlaut”, e as vasilhas nas quais era coletado se chamavam “vasilhas do hlaut (ou Tigelas de Blot). Galhos de hlaut (Hlaut-teins) eram fabricados, como escovas de salpicar, com os quais a totalidade dos altares e das paredes dos templos, tanto as de dentro quanto as de fora, eram salpicadas junto com as pessoas; mas a carne era cozida e aqueles presentes comiam um saboroso prato”.

Jonas de Bobbio no seu Vita Columbani sobre os Alamanos: “Eles possuíam um barril enorme, que eles chamavam de cupa que possuía 20 medidas. Estava cheio de cerveja e no meio deles. Eles afirmaram que iriam fazer uma oferenda ao seu deus Wodan, que outros afirmam ser Mercúrio”.

No poema Hyndluljóð da Edda Poética “Ele fez um grande altar com pedras colocadas uma em cima da outra: as pedras colocadas ficaram todas sangrentas e ele as avermelhou novamente com o sangue fresco de vacas.”

Na Hervargar Saga, a filha do rei Álfr de Álfheim é quem “avermelha o hörgr (altar de pedra) com sacrifícios”

Na Hervarar saga ok Heiðreks Saga: “Um cavalo era então trazido para a assembleia e talhado em pedaços e cortado para comer, e a árvore sagrada era manchada com sangue”

Altares ou Haerg: Hörgr (nórdico antigo) ou Haerg em inglês antigo: no poema Hyndluljóð da Edda Poética “Ele fez um altar alto de pedras lascadas: as pedras ficaram todas ensanguentadas, e ele as avermelhava novamente com o sangue fresco de vacas.”

Adam de Bremen declara no seu Atos dos Bispos da Igreja de Hamburgo: “Eles também adoravam um pilar de madeira, de maneira alguma pequeno, colocado ao céu aberto. Na língua nativa (saxão antigo) era chamado de ‘Irminsul’, que em latim significa ‘a coluna universal, já que ela sustenta tudo”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lista de Leitura - Runas

Nos tempos modernos o assunto Paganismo Germânico e Runas é indissociável. Em um paradigma reconstrucionista, conforme nos mostram as fontes e os achados arqueológicos, reconhecemos que as runas não eram usadas para a divinação e, muito provavelmente, para magia durante o período onde a antiga religião pagã era praticada pelos povos germânicos. Existia uma dúvida quanto a questão oracular devido ao fato de que o historiador romano Públio Cornélio Tácito citava o uso de varetas com símbolos para uso divinatório, entretanto ( conforme artigo já divulgado pelo Germania Institut ) essas varetas já foram encontradas e elas não possuíam runas entalhadas. Apesar das questões supracitadas, entendemos que o uso moderno de runas para magia e divinação é um tema agregador a nossa cena e, portanto, não deve ser desconsiderado. Somado a isso temos os registros de que os povos germânicos gostavam e utilizavam com frequência consultas oraculares, ainda que não usando runas, conforme consta no trabalh...

O Calendário de Feriados dos Germânicos Antigos

Texto traduzido e adaptado pelo professor Leonardo Hermes. Fonte: Robert Saas, https://www.aldsidu.com/post/the-historical-heathen-holidays-and-calendar  Esqueça a Roda do Ano ou Samhaim ou Yule no Solstício de Inverno. Muitas pessoas que buscam seguir o Germanismo acabam incorrendo no erro de seguir datas de feriados sem nenhum embasamento em nossas fontes, que são achados arqueológicos, as Sagas, as Eddas, textos em latim do fim da antiguidade e início da Idade Média como as Leges Barbarorum. Graças a pesquisadores como Dr. Andreas Nordberg e Andreas E. Zautner - que nos trazem novas perspectivas sobre esta questão – podemos ter um calendário mais autêntico.  Antes de mais nada, é preciso entender que a visão que temos sobre o tempo hoje é completamente diferente daquela dos germânicos antigos; para eles o ano começava com o inverno (que para nós hoje seria o meio do outono) e só tinha duas estações: inverno e verão; ambas estações começavam em uma lua cheia; o dia se inicia...