A maioria dos pagãos modernos que seguem o caminho Germânico, seguem o modelo Nórdico. Existem pessoas — incluindo-nos — que, todavia, seguem o modelo Continental, e outros ainda, que seguem o Anglo-Saxão. Quais são as diferenças entre os três panteões? O quanto as fontes arqueológicas e escritas diferem umas das outras? E por que alguns decidem seguir o caminho continental?
O caminho Nórdico é fortemente baseado na cultura escandinava do início da idade média, comumente chamada de Era Viking. A razão pela qual a maioria dos pagãos modernos seguem esse caminho é óbvia: fontes históricas em abundância, sejam elas arqueológicas ou escritas. As eddas clássicas são deste período, assim como as histórias sobre as vidas dos deuses, a arte e claro, a figura popular do viking.
Escandinávia da Era VIking
Não é difícil de entender o porquê de tantas pessoas irem até a religião escandinava medieval, já que ela é muito mais acessível para estudar. Há ainda uma razão um pouco controversa de que alguns, principalmente ex-cristãos, acessam esse caminho para se desvencilhar de sua velha igreja, graças a todo velho sentimento de Vikings pilhando igrejas Cristãs. Claro, existem ainda os pagãos que seguem este caminho porque era o mesmo de seus ancestrais.
O paganismo Anglo-Saxão moderno é baseado na religião e cultura da Inglaterra do início da Idade Média, entre a queda do império Romano e o início da era viking. A religião e cultura germânica foi introduzida na Grã-Bretanha durante o século V, quando as tribos germânicas continentais chegaram à Inglaterra. Essas tribos, tais quais: Saxões, Frísios, Anglos, trouxeram sua religião germânica para a Inglaterra, a qual evoluiu do seu jeito único, tornando-a um pouco diferente da cultura Germânica continental mais antiga.
Migração Anglo-Saxã
Não apenas a cultura germânica Anglo-Saxã foi influenciada pelas tribos continentais, mas também foi influenciada por tribos escandinavas, o que resultou numa mistura única de deidades escandinavas e continentais. A maioria dos seguidores deste caminho são ingleses ou descendentes dos mesmos.
O caminho germânico continental é talvez o mais desconhecido. A principal razão por trás disso é simples: esse caminho é baseado não no início da idade média, mas no final da Idade de Bronze e na Idade do Ferro. Esse caminho é baseado em fontes muito mais velhas, o que significa que existem pouquíssimas coisas escritas e encontradas pela arqueologia. Seguir esse caminho significa ter de estudar história mais profundamente e especular sobre achados arqueológicos e fontes escritas Romanas; não há quase nenhuma certeza nessas fontes. A vantagem é: como o caminho continental tem suas raízes no norte e oeste da Europa pré-histórica, existe uma grande gama de deidades locais, costumes, crenças e histórias, além de ser a fundação na qual tanto o caminho nórdico quanto o anglo-saxão evoluíram.
Tribos continentais
A maioria dos seguidores deste caminho são Holandeses, Alemães, Belgas ou Dinamarqueses que, ou sofrem da “fadiga viking”, ou querem seguir as deidades e costumes da sua terra, em vez da de um país escandinavo, o qual eles podem nem possuir qualquer ligação ancestral. A Dinamarca fica num meio termo, já que ela é tecnicamente continental e escandinava.
Então, quais são as diferenças?
Deidades:
Nórdico: as deidades nórdicas são as que você pode ler nas Eddas, como: Odin, Thor, Freya, Heimdall, Hel, Loki, Freyr, Skadi, Njörd, etc… A maioria dessas deidades possuem raízes nas deidades da cultura continental, mas algumas possuem claras referências da cultura Sami próxima, as quais não são possíveis de se encontrar nos outros dois caminhos. Um exemplo disso é a deusa Freyja, que é praticamente desconhecida fora da Escandinávia.
As deidades nórdicas são divididas em Aesir e Vanir, com a teoria popular de que os deuses Vanir são muito mais antigos, tendo suas raízes talvez na Idade do Bronze. Loki é um grande dilema no caminho nórdico já que ele aparece constantemente mas suas raízes são bastante duvidosas. É bastante provável que ele foi introduzido por cristãos tanto como um adversário parecido com o demônio, quanto como um lado negro do próprio Odin. Alguns pontos da edda clássica possuem similaridades distintas com histórias cristãs, como a criação do mundo; a religião pagã continental tem uma história de criação completamente diferente. Apesar disso, a quantidade de fontes é tão grande que é possível estudar com bastante precisão histórica.
Anglo-Saxão: As deidades Anglo-Saxãs são uma mistura dos deuses continentais e escandinavos com um ou mais deidades únicas conhecidas apenas pelo povo Anglo-Saxão: Woden, Thunor, Tiw, Frigg, Ing, Eostre, Saxnot, Baeldeag, Rheda, etc… A maioria dessas entidades têm suas raízes nas tribos continentais que migraram para a Grã-Bretanha e outras foram introduzidas por comerciantes escandinavos e frísios. No seu núclo, essas deidades são similares, quiçá iguais, as figuras nórdicas. Mesmo assim, algumas fontes escritas demonstram que suas histórias são mais parecidas com suas versões continentais.
Você pode notar claramente que existe bem menos influência cristã nas fontes Anglo-Saxãs mais antigas (comparadas com as fontes escandinavas), a estrutura de algumas histórias são mais próximas da cultura Proto-Indo-Europeia como a hereditariedade dos humanos vinda dos próprios deuses. Um exemplo é a história de que a deidade Saexnot é ancestral direto do povo Saxão, assim como Tuisto é o ancestral direto do povo continental. Compare isso a história escandinava de Odin criando Aska e Embla a partir da madeira.
Continental: As deidades continentais são baseadas em reconstruções linguísticas, achados de altares, fontes escritas (a maior parte Romana) e achados arqueológicos. Devido a falta de fontes, muitas deidades continentais são conhecidas apenas pelo nome, e muitas outras provavelmente perdidas para sempre. Algumas das deidades continentais são: Wodanaz, Donar, Nehalennia, Nerthus, Baduhenna, Tiwaz, Sandraudiga, Hercules Magusanus, Tuisto, Sol, Tanfana, Forseti etc… Essas deidades têm suas raízes ou na Idade de Bronze nórdica, ou nas culturas Proto-Indo-Europeias e nativas locais. Um bom exemplo é a deidade nativa holandesa Sandraudiga: o nome não possuí nenhuma conexão etimológica com nenhum idioma Germânico ou Celta, o que sugere que seja mais velha que ambas as culturas.
A maioria dessas deidades possuem similaridades com as deidades nórdicas, mas existem diferenças entre elas: Wodanaz por exemplo, possui ambos os olhos em algumas áreas e é puramente o Deus da Morte, Magia e Trapaça; ele não é o deus chefe como Odin é. Magusanus é uma mistura Celta/Romana/Germânica do deus do Trovão ( o deus do trovão era visto como a deidade chefe pela maioria das tribos germânicas). Nerthus é a antiga mãe terra, que evoluiu para Njörd nos países escandinavos; Tuisto é dito como o criador da humanidade, em vez de Odin.
Cultura e Período:
Nórdico: Apesar das fontes virem da idade media, as raízes do caminho nórdico estão no período das migrações, durante e logo após a queda do império Romano. O povo escandinavo vivia praticamente isolado e, por isso, não tiverem sua cultura influencida por outras tribos além dos Sami. Graças ao clima hostil e a poucas terras boas para cultivo, toda a era viking foi iniciada. Os pagãos nórdicos modernos focam pesadamente nos vikings e seus feitos.
Anglo-Saxão: Essa cultura nasceu durante a morte do império Romano. A era dos pequenos reinos independentes começou e as tribos germânicas que se assentaram na Grã-Bretanha logo formaram esses pequenos reinos e guerrearam com culturas nativas como os Pictos e os nativos de Gales. A era pagã Anglo-Saxônica durou pouco, entre os séculos V e VIII, quando o cristianismo se tornou a religião dominante. Apesar da sua curta vida, a maior parte dos seus principais elementos sobrevivem até hoje como a lenda do Rei Arthur, O Senhor dos Anéis e a épica Beowulf.
Continental: Essa cultura nasceu quando o clima esfriou no Norte Europeu e as tribos começaram a migrar para o sul no fim da Idade do Bronze. A maioria dos pagãos continentais era simples fazendeiros ou comerciantes e o conceito de reinos era completamente desconhecido até o início da Idade Média. As tribos germânicas estavam constantemente em guerra entre si, apenas se conciliando quando possuíam um inimigo em comum, como os Celtas ou os Romanos.
O período Germânico Continental clássico durou de 1200 antes da era comum até os anos 800–900 depois da era comum, tornando-se de longe o período mais longo e antigo do paganismo germânico. É claro, esse período era diferente para cada região da Germania. A maior parte das fontes que os pagãos continentais modernos usam vêm de fontes escritas por Romanos, Germânicos letrados que deixaram pedras de altar e outras inscrições, e cristãos do início da idade média que condenavam essas crenças antigas.
Qual caminho percorrer?
Esta é uma pergunta difícil de responder. No entanto, existem perguntas que podem ajudar na decisão: Qual a sua ancestralidade? Você sente afinidade com o povo da europa continental ou com o povo escandinavo? Você quer seguir os deuses das Eddas clássicas ou deidades da sua terra natal (ou da terra de seus ancestrais). Você está preparado para dedicar tempo e esforço para estudar o passado pré-histórico do Norte Europeu para entender as raízes do paganismo continental?
Faça essas perguntas a si mesmo. Tenho certeza que seus ancestrais vão lhe guiar.
Texto original escrito por: Melissa Ligteneigen
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