OS = Old Saxon (Saxão Antigo)
OE = Old English
ON = Old Norse
OHG = Old High German
NHG = New High German
Dentre os conceitos mais discutidos dentro do âmbito pagão germânico está certamente o de wyrd, fate, destino. Na cultura pop temos, por exemplo, a franquia de livros Crônicas Saxônicas em que o protagonista Uthred costuma dizer a seguinte frase:
“Wyrd bið ful aræd” – Fate remains wholly inexorable (O destino mantém-se inexorável)
A frase é de um poema chamado The Wanderer, escrito em Old English. No épico Beowulf temos uma frase parecida:
“Gæð a wyrd swa hio scel” – Fate goes ever as she shall (O destino sempre segue como se deve ser)
Mas o que é, de fato, o destino, wyrd?
O destino é a força mais poderosa no universo. Observa-se que os deuses, assim como os seres humanos, estão sujeitos ao destino, o qual direciona o mundo para a destruição com uma determinação irrefreável. A profecia descrita no nórdico Ragnarök não pode ser mudada ou prevenida por ninguém. As linhas sobre Yggdrasill no Voluspá descrevem a imagem mitológica das nornas na fonte de Urd e da árvore da vida, reinando sobre a ordem cósmica e a contínua renovação da natureza. As palavras Wurd (OS), Wyrd (OE), e Wurt (OHG) são comumente interpretadas como as nornas germânicas. A fonte de Urd é nomeada desta forma devido a primeira das nornas, apesar de que Urd e suas irmãs Verdandi e Skuld representam passado, presente e futuro respectivamente.
Walter Gehl em seu livro Der Germanische Schicksalsglaube (livr. A crença Germânica no destino.) comenta que o nascimento e a morte são igualmente controlados pelas nornas, as quais são deusas da vida e de toda crescente e deterioração orgânica. A prática de encantos e runas podiam ajudar um ser humano a investigar o seu destino, por exemplo, ao interpretar o vôo e cantos dos pássaros, ou o movimento das águas em rios e fontes, como sinais do destino predefinido, mas não podia-se mudar. Como costumamos estabelecer no contexto de magia, as tríades femininas são frequentes na mitologia Germânica e as matronaes foram conectadas às nornas.
O número três é um número sagrado para muitas culturas indo-europeias e é conhecido por ser um símbolo antigo para pluralidade. Fizemos um artigo sobre as dísir, matronaes e todas as ligações entre elas e destino, facilitando o entendimento.
O objetivo principal até o momento não é diferenciar os diferentes nomes para estas personificações do destino ou estabelecer alguma identidade, mas sim reconhecer características comuns, a fim de adquirir uma imagem mais clara do conceito germânico de destino. Wolfgang Mohr em Schickcsalsglauben und Heldentum (A crença no destino e Heroísmo), comenta:
“Destino, como o evento de desenvolvimento da vida, como o poder que se mantém acima da própria vida, que cria e exige do homem. É o que faz as decisões sobre a felicidade e os problemas, que mostra a vida em sua totalidade para o homem. O significado das formações mais antigas da palavra que constituem o conceito de destino revela muito sobre a visão de mundo Germânica.”
Prisca Augustyn em seu livro Semiotics of Fate, diz o seguinte:
Tendo tudo isto em vista, vamos então tentar definir melhor o que era o destino para estes povos.
Nornas é a palavra usada para tratar destes poderosos seres que tecem o destino pelos povos nórdicos. Quando passamos a tratar dos germânicos continentais, temos outras denominações: não temos as três nornas, mas apenas Urd (wurd, wyrd), e as giscapou. Sendo assim, para os saxões, temos a personificação feminina do destino (Urd, Wurd, Wyrd) e as giscapou. Mais ou menos a mesma ideia das três nornas principais e outras nornas que não são nomeadas na crença nórdica.
Julius Pokomy em seu Indogermanisches Etymologisches Worterbuch (Dicionário Etimológico Indo-Europeu) lista a palavra giscapou como sendo de um radical Indo-Europeu “*(s)kep-, (s)kop-, (s)kdp-\ (s)keb(h)-, skob(h)-, skobfh)-, und skdbfh)-, mil scharfem Werkzeug schneiden, spalten”, significando algo como “cortar com objeto afiado, dividir”. Um pouco depois, Pokomy cita outras palavras que vêm destes radicais, como por exemplo o gótico “gaskapian” (moldar, criar).
Estes radicais passam a nos dar um certo significado mais concreto com o que trabalhar, afinal se estamos falando de “moldar” e “cortar com objetos afiados”, é possível supor então que “moldamos algo ao cortá-lo”. Se considerarmos a Heliand, o contexto da passagem de tempo e o nascimento ou morte, podemos facilmente ligar a palavra Giscapou aos seres que fazem o destino e determinam o nascimento e a morte (Urd, Wurd). Isso fica corroborado pelo fato morfológico da personificação do destino como um agente feminino (descrito anteriormente como sendo wurd) com o substantivo verbal.
Portanto, ao analisarmos as passagens na Heliand, vemos palavras como wurdgiscapou, a qual significa, a grosso modo, modeladoras de destino, ou reganogiscapu, significando modeladoras. que reinam.
Percebe-se então que para os Saxões, o destino era modelado, moldado, traçado, tecido, no momento do nascimento. As wurdgiscapu tornam-se algo similar às Moiras gregas, por exemplo, que traçam nosso destino, determinando os principais acontecimentos e delimitando o momento final da vida.
É interessante notar que no poema Éddico Helgakviða Hundingsbana I, as Nornas visitam cada recém-nascido para delimitar seu tempo de vida:
Em Voluspá, fica claro que nossas vidas são determinadas:
Como Robert Saas cita em seu livro “Aldsidu: Saxon Heathenry'', existem algumas passagens na Heliand que explicitam estas mesmas funções de Urd e das Giscapu. Como a seguir, o trecho indica a presença das mesmas no nascimento. As Modeladoras (e o poder de Deus) lembram a Maria o futuro, que ela teria um filho em Belém. Maria não pode escapar do seu destino da mesma forma que os deuses não podem escapar do seu destino no Mudspelli (Nórdico Antigo: Ragnarok):
“They were in his household both by birth, coming from his clan, a good family. I was told that the bright Shapers and God’s might reminded Mary, that to her a son would be born en Bethlehem.”
No mesmo livro, Saas traz outras passagens da Heliand em que temos mais informações sobre as Modeladoras. Abaixo, uma passagem que demonstra que quando uma pessoa morria, era considerado que Urd e as Modeladoras estavam bravas. Nesta passagem, há a palavra “metod”, que em saxão antigo seria “a medidora”. Urd e suas Modeladoras são “Medidoras”, e determinam, como supracitado, o tamanho da vida de uma pessoa:
Anteriormente foi citada uma palavra: reganogiscapou. Essa frase aparece algumas vezes na Heliand. Dr Robert Saas, ainda em seu livro sobre o Paganismo Saxão, acredita que Urd e suas Modeladoras estão acima dos deuses. Elas são tão citadas durante a Heliand que só perdem apenas para Jesus.
Vale salientar ainda nesta questão que a palavra metod é associada com o Deus cristão, como se fosse o Medidor. Caso formos levar isso em consideração, é possível supor que o poeta que escreveu a Heliand decidiu igualar (ou melhor, tornar) o destino (Urd) a Deus. Com isso, fica-se ainda mais claro que o Destino (Urd) reina (regin) sobre todos, e os modela (reganogiscapou).
Como a função do Heliand era converter os saxões para o cristianismo, tornaram Jesus um herói, não diferente da forma como o poema Beowulf transforma o mesmo em herói. Sendo assim, foi necessário encaixar um conceito tão importante para os saxões (o destino) o máximo possível, demonstrando que Deus possuía poder até sobre seus próprios deuses.
Até mesmo nossas aparências são predeterminadas. Busquemos lembrar um pouco o que está descrito no Heliand, e veremos que nós, seres humanos, seguimos os decretos de Urd (Wurd, o Destino e suas Modeladoras). Será que temos o tão famoso e falado livre arbítrio? Apesar de toda esta análise, não temos como bater o martelo em algo tão complicado. Imagino e compartilho a visão de outros estudiosos como Robert Saas de que possuímos liberdade de escolha, mas que Uurd e suas Modeladoras sabem de todas as nossas opções e com isso, sabem de qualquer forma para onde cada uma destas opções nos levará.
E é justamente por isso, por termos estas opções, que existem outros conceitos igualmente importantes: Frith, Honra, Innangard. Uurd sabe de todo o seu destino, sabe o início de sua jornada e quando ela acabará, mas o caminho e suas ramificações, quem decide é você, com suas ações.
Não à toa, por termos certas certezas, Seidr (Nórdico Antigo) e Sooth (Saxão Antigo) existiam, a fim de prever o futuro através da adivinhação.
Inclusive, no Lex Saxonum, a codificação das novas leis saxãs após a derrota deste povo para os francos, existia uma lei que explicitava “[... ]todos os adivinhos devem ser dados à Igreja e aos padres.”. Acho que fica claro o quão precisa a adivinhação daquele povo era. No próprio Heliand Jesus utiliza da “arte da adivinhação” para prever sua morte.
Infelizmente a arte do Seidr/Sooth foi perdida. Existem muitas pessoas que se dizem experts nessa área, mas as chances de ser puro charlatanismo são imensas, tendo em vista que as pessoas não estudam conteúdos base da crença, quiçá algo tão complexo.
Se nem os deuses podem escapar do destino, imagine-se nós. Devemos passar a observar mais de perto a ideia de destino, afinal, os próprios saxões davam muita atenção a isso.
Pelo jeito, o Destino não é tão inexorável assim.
Bibliografia:
MITTNER, Ladislao. Schicksal und Werden im Altgermanischen.
SAAS, Robert. Aldsidu: Old Saxon Heathenry;
AUGUSTYN, Prisca. The Semiotics of Fate, Death and Soul in Germanic Culture;
POKOMY, Julius. Indogermanisches Etymologisches Worterbuch
MOHR, Wolfgang. Schickcsalsglauben und HeldentumGEHL, Walter. Der Germanische Schicksalsglaube
Dentre os conceitos mais discutidos dentro do âmbito pagão germânico está certamente o de wyrd, fate, destino. Na cultura pop temos, por exemplo, a franquia de livros Crônicas Saxônicas em que o protagonista Uthred costuma dizer a seguinte frase:
“Wyrd bið ful aræd” – Fate remains wholly inexorable (O destino mantém-se inexorável)
A frase é de um poema chamado The Wanderer, escrito em Old English. No épico Beowulf temos uma frase parecida:
“Gæð a wyrd swa hio scel” – Fate goes ever as she shall (O destino sempre segue como se deve ser)
Mas o que é, de fato, o destino, wyrd?
O destino é a força mais poderosa no universo. Observa-se que os deuses, assim como os seres humanos, estão sujeitos ao destino, o qual direciona o mundo para a destruição com uma determinação irrefreável. A profecia descrita no nórdico Ragnarök não pode ser mudada ou prevenida por ninguém. As linhas sobre Yggdrasill no Voluspá descrevem a imagem mitológica das nornas na fonte de Urd e da árvore da vida, reinando sobre a ordem cósmica e a contínua renovação da natureza. As palavras Wurd (OS), Wyrd (OE), e Wurt (OHG) são comumente interpretadas como as nornas germânicas. A fonte de Urd é nomeada desta forma devido a primeira das nornas, apesar de que Urd e suas irmãs Verdandi e Skuld representam passado, presente e futuro respectivamente.
ETIMOLOGIA:
Assim como Prisca Augustyn, Mittner explica a etimologia da palavra wurd (OS) em uma ordem cósmica como uma abstração verbal do radical indo-europeu *itert- (virar, girar, como no giro ou rotação do mundo). O significado da palavra wurd como sendo “aquilo que acontece”, nascimento e morte, crescente e minguante, renovação e desintegração contínua é derivado do Germânico *uurpi:, que é uma apofonia de grau zero do Germânico *werp-” (tornar-se) com o sufixo padrão. Isto é similar aos substantivos NHG que são derivados de verbos, como em der Wurf (arremesso) vindo de werfen (arremessar), der Sprung (salto) vindo de springen (saltar), der Fund (encontro) vindo de finden (encontrar)Walter Gehl em seu livro Der Germanische Schicksalsglaube (livr. A crença Germânica no destino.) comenta que o nascimento e a morte são igualmente controlados pelas nornas, as quais são deusas da vida e de toda crescente e deterioração orgânica. A prática de encantos e runas podiam ajudar um ser humano a investigar o seu destino, por exemplo, ao interpretar o vôo e cantos dos pássaros, ou o movimento das águas em rios e fontes, como sinais do destino predefinido, mas não podia-se mudar. Como costumamos estabelecer no contexto de magia, as tríades femininas são frequentes na mitologia Germânica e as matronaes foram conectadas às nornas.
O número três é um número sagrado para muitas culturas indo-europeias e é conhecido por ser um símbolo antigo para pluralidade. Fizemos um artigo sobre as dísir, matronaes e todas as ligações entre elas e destino, facilitando o entendimento.
O objetivo principal até o momento não é diferenciar os diferentes nomes para estas personificações do destino ou estabelecer alguma identidade, mas sim reconhecer características comuns, a fim de adquirir uma imagem mais clara do conceito germânico de destino. Wolfgang Mohr em Schickcsalsglauben und Heldentum (A crença no destino e Heroísmo), comenta:
“Destino, como o evento de desenvolvimento da vida, como o poder que se mantém acima da própria vida, que cria e exige do homem. É o que faz as decisões sobre a felicidade e os problemas, que mostra a vida em sua totalidade para o homem. O significado das formações mais antigas da palavra que constituem o conceito de destino revela muito sobre a visão de mundo Germânica.”
Prisca Augustyn em seu livro Semiotics of Fate, diz o seguinte:
O Deus Cristão transcende até mesmo o destino; sem seu conhecimento nada acontece. No Hino de Caedmon, o nome para destino [metod] é atribuído a Deus e o poder de Deus é chamado de [metudoeces] (poder do medidor/avaliador). Existe ampla evidência desta troca da crença pagã para o Deus cristão omnipotente. A Heliand demonstra esta troca não como uma simples substituição, mas através de uma mudança complexa de existente e novo.
Tendo tudo isto em vista, vamos então tentar definir melhor o que era o destino para estes povos.
O DESTINO E SUAS MODELADORAS:
Vimos anteriormente que wurd sendo as nornas, são o poder máximo da mitologia Germânica e o centro de tal cosmologia; Urd, Verdandi e Skuld representam o passado, presente e futuro.Nornas é a palavra usada para tratar destes poderosos seres que tecem o destino pelos povos nórdicos. Quando passamos a tratar dos germânicos continentais, temos outras denominações: não temos as três nornas, mas apenas Urd (wurd, wyrd), e as giscapou. Sendo assim, para os saxões, temos a personificação feminina do destino (Urd, Wurd, Wyrd) e as giscapou. Mais ou menos a mesma ideia das três nornas principais e outras nornas que não são nomeadas na crença nórdica.
Julius Pokomy em seu Indogermanisches Etymologisches Worterbuch (Dicionário Etimológico Indo-Europeu) lista a palavra giscapou como sendo de um radical Indo-Europeu “*(s)kep-, (s)kop-, (s)kdp-\ (s)keb(h)-, skob(h)-, skobfh)-, und skdbfh)-, mil scharfem Werkzeug schneiden, spalten”, significando algo como “cortar com objeto afiado, dividir”. Um pouco depois, Pokomy cita outras palavras que vêm destes radicais, como por exemplo o gótico “gaskapian” (moldar, criar).
Estes radicais passam a nos dar um certo significado mais concreto com o que trabalhar, afinal se estamos falando de “moldar” e “cortar com objetos afiados”, é possível supor então que “moldamos algo ao cortá-lo”. Se considerarmos a Heliand, o contexto da passagem de tempo e o nascimento ou morte, podemos facilmente ligar a palavra Giscapou aos seres que fazem o destino e determinam o nascimento e a morte (Urd, Wurd). Isso fica corroborado pelo fato morfológico da personificação do destino como um agente feminino (descrito anteriormente como sendo wurd) com o substantivo verbal.
Portanto, ao analisarmos as passagens na Heliand, vemos palavras como wurdgiscapou, a qual significa, a grosso modo, modeladoras de destino, ou reganogiscapu, significando modeladoras. que reinam.
Percebe-se então que para os Saxões, o destino era modelado, moldado, traçado, tecido, no momento do nascimento. As wurdgiscapu tornam-se algo similar às Moiras gregas, por exemplo, que traçam nosso destino, determinando os principais acontecimentos e delimitando o momento final da vida.
É interessante notar que no poema Éddico Helgakviða Hundingsbana I, as Nornas visitam cada recém-nascido para delimitar seu tempo de vida:
“Twas night in the dwelling, and Nornir came there,
Who shaped the life of the lofty one;
They bade him most famed of fighters all
And best of princes ever to be.
Mightily wove they the web of fate,
While Bralund's towns were trembling all;
And there the golden threads they wove,
And in the moon's hall fast they made them.
East and west the ends they hid,
In the middle the hero should have his land;
And Neri's kinswoman northward cast a chain, and bade it firm ever to be.”
“Era noite na casa, e as Nornir chegaram lá,
Que moldou a vida do altivo;
Elas determinaram que ele seria o mais famoso de todos os lutadores
E o melhor dos príncipes.
Poderosamente teceram a teia do destino,
Enquanto as cidades de Bralund todas tremiam;
E lá fios dourados elas teceram,
E no salão da lua rápido os fizeram.
Lest e Oeste as pontas esconderam,
No meio o herói deveria ter suas terras;
E as parentes de Neri uma corrente ao norte lançou, e determinou que firme sempre estará.
Em Voluspá, fica claro que nossas vidas são determinadas:
“Then down 'neath the tree…three wise maidens take them. Under spreading boughs their bower stands: Uurd is one, the other Versandi, Sculd the third, they cut scores and made laws, they chose the lives for the children of men, they marked their fates.”
“Então embaixo da árvore… três sábias mulheres os levaram. Sob galhos espalhados sua casa fica: Uurd é uma, a outra é Versandi, Sculd a terceira, elas cortam pontos e fazem leis, elas escolhem as vidas dos filhos dos homens, elas marcam seus destinos.”
Como Robert Saas cita em seu livro “Aldsidu: Saxon Heathenry'', existem algumas passagens na Heliand que explicitam estas mesmas funções de Urd e das Giscapu. Como a seguir, o trecho indica a presença das mesmas no nascimento. As Modeladoras (e o poder de Deus) lembram a Maria o futuro, que ela teria um filho em Belém. Maria não pode escapar do seu destino da mesma forma que os deuses não podem escapar do seu destino no Mudspelli (Nórdico Antigo: Ragnarok):
“They were in his household both by birth, coming from his clan, a good family. I was told that the bright Shapers and God’s might reminded Mary, that to her a son would be born en Bethlehem.”
“Ambos estavam em sua casa no nascimento, vindo de seu clã, uma boa família. Foi-me dito que as Modeladoras e o poder de Deus lembraram Maria, que um filho dela nasceria em Belém”.
No mesmo livro, Saas traz outras passagens da Heliand em que temos mais informações sobre as Modeladoras. Abaixo, uma passagem que demonstra que quando uma pessoa morria, era considerado que Urd e as Modeladoras estavam bravas. Nesta passagem, há a palavra “metod”, que em saxão antigo seria “a medidora”. Urd e suas Modeladoras são “Medidoras”, e determinam, como supracitado, o tamanho da vida de uma pessoa:
“Then I asked if she stood there in worry, that the great power of the Measurer the angry Uurd-Shapers (wurdgiscapou) separated her. Then she was a widow at the peace-grove for eighty-four winters in her world.”
“Então eu perguntei se ela estava ali preocupada, que o grande poder das Medidoras, as raivosas Modeladoras do Destino separou ela. Então ela era uma viúva no bosque da paz por oitenta e quatro invernos no mundo dela.”
Anteriormente foi citada uma palavra: reganogiscapou. Essa frase aparece algumas vezes na Heliand. Dr Robert Saas, ainda em seu livro sobre o Paganismo Saxão, acredita que Urd e suas Modeladoras estão acima dos deuses. Elas são tão citadas durante a Heliand que só perdem apenas para Jesus.
Vale salientar ainda nesta questão que a palavra metod é associada com o Deus cristão, como se fosse o Medidor. Caso formos levar isso em consideração, é possível supor que o poeta que escreveu a Heliand decidiu igualar (ou melhor, tornar) o destino (Urd) a Deus. Com isso, fica-se ainda mais claro que o Destino (Urd) reina (regin) sobre todos, e os modela (reganogiscapou).
Como a função do Heliand era converter os saxões para o cristianismo, tornaram Jesus um herói, não diferente da forma como o poema Beowulf transforma o mesmo em herói. Sendo assim, foi necessário encaixar um conceito tão importante para os saxões (o destino) o máximo possível, demonstrando que Deus possuía poder até sobre seus próprios deuses.
CONCLUSÃO:
Nossas vidas estão decididas. Se olharmos pelo ângulo desenvolvido até aqui, não temos muito controle sobre elas. Veja-se que não podemos controlar de quem somos filhos, quando nascemos, nem mesmo podemos impedir nossas mortes.Até mesmo nossas aparências são predeterminadas. Busquemos lembrar um pouco o que está descrito no Heliand, e veremos que nós, seres humanos, seguimos os decretos de Urd (Wurd, o Destino e suas Modeladoras). Será que temos o tão famoso e falado livre arbítrio? Apesar de toda esta análise, não temos como bater o martelo em algo tão complicado. Imagino e compartilho a visão de outros estudiosos como Robert Saas de que possuímos liberdade de escolha, mas que Uurd e suas Modeladoras sabem de todas as nossas opções e com isso, sabem de qualquer forma para onde cada uma destas opções nos levará.
E é justamente por isso, por termos estas opções, que existem outros conceitos igualmente importantes: Frith, Honra, Innangard. Uurd sabe de todo o seu destino, sabe o início de sua jornada e quando ela acabará, mas o caminho e suas ramificações, quem decide é você, com suas ações.
Não à toa, por termos certas certezas, Seidr (Nórdico Antigo) e Sooth (Saxão Antigo) existiam, a fim de prever o futuro através da adivinhação.
Inclusive, no Lex Saxonum, a codificação das novas leis saxãs após a derrota deste povo para os francos, existia uma lei que explicitava “[... ]todos os adivinhos devem ser dados à Igreja e aos padres.”. Acho que fica claro o quão precisa a adivinhação daquele povo era. No próprio Heliand Jesus utiliza da “arte da adivinhação” para prever sua morte.
Infelizmente a arte do Seidr/Sooth foi perdida. Existem muitas pessoas que se dizem experts nessa área, mas as chances de ser puro charlatanismo são imensas, tendo em vista que as pessoas não estudam conteúdos base da crença, quiçá algo tão complexo.
Se nem os deuses podem escapar do destino, imagine-se nós. Devemos passar a observar mais de perto a ideia de destino, afinal, os próprios saxões davam muita atenção a isso.
Pelo jeito, o Destino não é tão inexorável assim.
Bibliografia:
MITTNER, Ladislao. Schicksal und Werden im Altgermanischen.
SAAS, Robert. Aldsidu: Old Saxon Heathenry;
AUGUSTYN, Prisca. The Semiotics of Fate, Death and Soul in Germanic Culture;
POKOMY, Julius. Indogermanisches Etymologisches Worterbuch
MOHR, Wolfgang. Schickcsalsglauben und HeldentumGEHL, Walter. Der Germanische Schicksalsglaube
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