Pular para o conteúdo principal

Lista de Leitura - Visão de mundo


Apesar de o considerarmos como uma religião, o Paganismo Germânico é abrangente e complexo. Poderíamos simplesmente elencar os diversos deuses e seres divinos que nos são providos pelas Eddas e Sagas, comprar estatuetas, alguns incensos e velas, e então fazer qualquer coisa com tudo isso, a qual chamaríamos de ritual, reza, oração, ou seja lá mais o que poder-se-ia denominar.

Todavia, a cultura pop trouxe à tona tudo isso; não só essa mistura esdrúxula de Cristianismo e cultura Germânica, mas outras coisas tão estapafúrdias quanto: como o nosso famoso Thor loiro, o Valhalla como um paraíso, valquírias como seres bondosos e de beleza estonteante que levam-nos para o paraíso. Todos estes equívocos possuem um número considerável de motivos.

O primeiro certamente é a influência que as “Religiões Mundiais” tiveram (e têm), sobre a cultura e sociedade passada e atual. Basta uma olhada um pouco mais atenta para verificar que muitas das coisas que hoje consideramos comuns vêm de uma veia cristã, enraizada em tudo em nossas vidas. Sendo assim, é compreensível quando decidimos nos desvencilhar de tais costumes na esperança de reviver um modo de viver, de se portar, de ser capaz de trilhar um caminho diferente.

O segundo motivo está intrinsecamente ligado ao primeiro. Ora, se estamos tão acostumados com um mundo cristão, acaba-se por trazer conceitos deste para o âmbito pagão germânico. O que acaba sendo danoso para a “cultura a ser revivida” de forma geral é quando trazemos estes conceitos com total consciência disso e sem nenhuma perspectiva de mudança. Veja-se que quando nos referimos à “cultura a ser revivida”, estamos a tratar do conceito de “reconstrucionismo”, o qual tem por objetivo recuperar a cultura de nossos ancestrais da melhor forma possível.

Portanto, esta cultura, para que receba um sopro de vida mais uma vez, precisa que estejamos prontos para estudar e aprender. Da mesma forma que um exército não ataca em um terreno totalmente desconhecido, a pessoa que deseja se ligar com sua ancestralidade ou com uma cultura tão rica, porém esquecida, como a germânica, deve estudar os principais conceitos, a visão de mundo dos antigos povos, para que possa então atacar com sabedoria o inimigo chamado ignorância.

Tendo isso em mente, nós do Germânia Institut decidimos por criar listas de leitura que irão abranger os mais diversos temas necessários, tanto para o entendimento básico da cultura e religião, quanto para um entendimento mais avançado, profundo. Recomenda-se utilizar-se da ordem recomendada nesta lista, justamente pelo fato de que ela foi pensada desta forma, e qualquer outra ordem pode afetar a leitura de forma negativa.

As listas seguintes a esta terão regras e requisitos para iniciá-las. Pensamos em seguir este modelo pelo simples fato de evitar distorções e saladas de frutas completamente sem sentido que comprometerão o estudo, o entendimento, e consequentemente impedindo o cenário do Paganismo Germânico crescer de forma saudável no Brasil.

Vale-se salientar que infelizmente quase todo o conteúdo decente para este tipo de assunto encontra-se em idiomas estrangeiros ao nosso. Portanto, os livros indicados estarão majoritariamente em inglês, alguns em alemão, francês, e de línguas nórdicas. Fica aqui, por conseguinte, a valiosa dica de estudar outros idiomas.

Os essenciais:

  • The Early Germans - Malcolm Todd

  • The Culture of the Teutons – Vilhelm Grönbech

  • We are our Deeds – Eric Woddening

  • Mitos do norte pagão: Os deuses dos nórdicos - Christopher Abram


Observação: A leitura dos livros supracitados são obrigatórios. Cada um destes irá influenciar diretamente como o restante dos estudos seguirá.

Leitura opcional: Os livros citados abaixo são complementares aos essenciais. Leia caso se interesse em alguma tribo ou ponto histórico específico.
  • The History of the Medieval World - Susan Wise Bauer
  • The Later Roman Empire - Amianus Marcellinus
  • The Alamanni and Rome - John F. Drinkwater
  • The Lombards - Neil Christie

Nível 1:

Ao chegar neste nível, o leitor já estará habilitado a analisar conceitos individuais mais de perto, agora já tendo uma ideia mais básica dos mesmos. Com isso, não há problemas para distinguir o que é besteira e o que não é.

  • The Germanization of Early Medieval Christianity – James C. Russell

  • Honor in German Literature – George Fenwick Jones

  • The Ethical World-Concept of the Norse People – Andrew Peter Fors

  • The Gift – Mauss

  • The Road to Hel - Hilda R. Ellis Davidson

  • Gods and Myths of Northern Europe - Hida R. Ellis Davidson

  • The Tradition of Household Spirits - Claude LeCouteux

Nível 2:

Tendo completado o nível 1, o leitor finalmente entrará em conceitos mais complexos e que exigem um estudo mais calmo e concentrado: o divino. Devido a diferença acentuada do divino cristão ao germânico, tal estudo foi deixado no nível 2 para que fosse evitado comparações e misturebas.

  • The Sacred and Profane – Mircea Eliade

  • The Idea of Holy – Rudolf Otto

  • Runic Amulets and Magic Objects – Mindy McLeod, Bernard Mees


Nível 3:

O nível 3 é onde o leitor terá contato com conceitos que poderão ser inclusive utilizados em outras crenças provenientes dos indo-europeus. Os livros a seguir exigem que o leitor esteja confortável com todos os conceitos e ideias presentes no paganismo germânico, ou haverá confusão.

  • The Well and the Tree – Paul C. Bauschatz

  • Lady with a Mead Cup – Michael J. Enright

  • Texts and Context of the Oldest Runic Inscriptions – Tineke Looijenga

  • How to Kill a Dragon – Calvert Watkins


Nível 4:

Por fim, este é o nível que o leitor quer alcançar ao iniciar esta lista. Neste, estão as fontes primárias, as quais necessitam de um amadurecimento para que possam serem lidas da forma correta e se entenda de fato o que elas poderiam estar querendo dizer. Tendo este discernimento adquirido durante as leituras anteriores, fica mais fácil de entender como adicionar os ensinamentos das fontes primárias nas práticas atuais.

Algumas das obras abaixo constituem a base mitológica da fé germânica e, portanto, são essenciais para o praticante / estudando desta religião. Uma vez compreendida a visão de mundo dos povos germânicos e tendo desenvolvido um senso crítico que permite separar a influência cristã, é interessante ler estas obras.

É importante citar que não existem muitas bases para o mitologia germânica continental, então acaba-se utilizando as fontes escandinavas considerando as devidas diferenças entre as duas vertentes. Além das Eddas, todos os poemas escáldicos podem ser considerados como fontes mitológicas, pois os kennings carregam forte significado baseado nos mitos. Outra base importante são obras cristãs que citam os deuses ou as práticas religiosas dos povos germânicos e proporcionam preciosas partículas de conhecimento.

  • Edda em Verso ou Elder Edda;

  • Edda em Prosa ou Younger Edda - Snorri Sturluson;

  • Gesta Danorum - Saxo Grammaticus;

  • Heliand;

  • De Temporum Ratione - Venerável Beda;

  • Indiculus superstitionum et paganiarum;

  • Vita Caroli Magni - Einhard;

  • Beowulf (um poema contido no Nowell Codex);

  • Todos os poetas escáldicos.

  • Leges Barbarorum

Dicionários e material de apoio:

O estudante e pesquisador do paganismo germânico invariavelmente acaba esbarrando em palavras ou conceitos desconhecidos. Desta forma é sempre interessante ter como material de apoio dicionários que contém essas palavras chaves para rápida consulta.

  • O Livro da mitologia nórdica - John Lindow;
  • Dicionário de História e Cultura da era Viking - Johnni Langer;

  • Dicionário de mitologia nórdica: Símbolos, mitos e ritos - Johnni Langer;

  • Enciclopédia de Mitologia - 5a Edição - Marcelo Del Debbio.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lista de Leitura - Runas

Nos tempos modernos o assunto Paganismo Germânico e Runas é indissociável. Em um paradigma reconstrucionista, conforme nos mostram as fontes e os achados arqueológicos, reconhecemos que as runas não eram usadas para a divinação e, muito provavelmente, para magia durante o período onde a antiga religião pagã era praticada pelos povos germânicos. Existia uma dúvida quanto a questão oracular devido ao fato de que o historiador romano Públio Cornélio Tácito citava o uso de varetas com símbolos para uso divinatório, entretanto ( conforme artigo já divulgado pelo Germania Institut ) essas varetas já foram encontradas e elas não possuíam runas entalhadas. Apesar das questões supracitadas, entendemos que o uso moderno de runas para magia e divinação é um tema agregador a nossa cena e, portanto, não deve ser desconsiderado. Somado a isso temos os registros de que os povos germânicos gostavam e utilizavam com frequência consultas oraculares, ainda que não usando runas, conforme consta no trabalh...

Como Fazer Um Blot Solitário

Tradução e adaptação do texto de Robert Saas pelo professor Leonardo Hermes: https://www.aldsidu.com/post/how-to-do-solitary-ritual   Uma das maiores dificuldades daqueles que buscam seguir as tradições dos germânicos antigos é como proceder com algum ritual para honrar os deuses ou antepassados. Com isto em mente estamos trazendo um guia de como fazer um Blot solitário.  Trouxemos o passo-a-passo para que você possa fazer um ritual historicamente fidedigno e com significado.  Muitos grupos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, utilizam sangue nos seus Blots, já que esta é a origem da palavra “blood”, sangue em inglês. Contudo, entendemos que isto pode ser chocante ou um tabu muito grande para a maioria das pessoas. Lembre-se que quando se utiliza sangue, normalmente o animal é abatido e depois assado. Qualquer um que goste de churrasco e tenha ressalvas em utilizar sangue em um Blot precisa rever a sua visão do que é um Blot.  Contudo, sangue não é a única...

O Calendário de Feriados dos Germânicos Antigos

Texto traduzido e adaptado pelo professor Leonardo Hermes. Fonte: Robert Saas, https://www.aldsidu.com/post/the-historical-heathen-holidays-and-calendar  Esqueça a Roda do Ano ou Samhaim ou Yule no Solstício de Inverno. Muitas pessoas que buscam seguir o Germanismo acabam incorrendo no erro de seguir datas de feriados sem nenhum embasamento em nossas fontes, que são achados arqueológicos, as Sagas, as Eddas, textos em latim do fim da antiguidade e início da Idade Média como as Leges Barbarorum. Graças a pesquisadores como Dr. Andreas Nordberg e Andreas E. Zautner - que nos trazem novas perspectivas sobre esta questão – podemos ter um calendário mais autêntico.  Antes de mais nada, é preciso entender que a visão que temos sobre o tempo hoje é completamente diferente daquela dos germânicos antigos; para eles o ano começava com o inverno (que para nós hoje seria o meio do outono) e só tinha duas estações: inverno e verão; ambas estações começavam em uma lua cheia; o dia se inicia...