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Como fazer um Sumble? Como o Sumble Era Feito Historicamente?


Além do Blot, uma das ritualísticas básicas do paganismo germânico é o Sumble. Contudo, poucos sabem como segui-lo de maneira apropriada. Neste texto iremos passar os detalhes de como fazer um Sumble.

As fontes principais são Beowulf e a Heimskringla Oláfs saga Tryggvasonar, já que estes possuem passagens bem longas e detalhadas que demonstram como Sumble era feito historicamente e, mais importante, qual era o significado do Sumble. Outro grande exemplo de um Blot de Yule e Sumble é a Saga de Hakon, o Bom, capítulos 15-16, em algumas traduções. Em outras, capítulos 13-14.

A palavra “Sumble” vem do saxão antigo “symbel”. No poema em inglês Antigo Beowulf, o Sumble é chamado de “Symbel”. Em islandês antigo a palavra “Sumbl” aparece na Heimskringla Saga.

A versão de Beowulf utilizada para este texto é a do livro de J.R.R. Tolkien, Beowulf – Uma Tradução Comentada. Nesta versão, os Sumbles são descritos por dezenas de páginas, com longos juramentos e vanglórias. Mesmo assim, existem vários detalhes sobre a importância da cerimônia e de como era conduzida.

Quem quiser conferir a Heimskringla Oláfs saga Tryggvasonar pode acessar o link

O objetivo do Sumble é colocar a pessoa no fluxo do Uurd, assim fazendo uma conexão com os feitos do passado com os do presente e afetar os feitos do futuro. O discurso em um Sumble gira em torno de feitos do passado e do presente. No poema, Beowulf menciona quem era seu pai e vangloria-se dos feitos do passado antes de prometer assassinar Grendel. 

Vangloriar-se servia um propósito, o de colocar a si mesmo no fluxo de Uurd, e desta maneira, controlar os eventos do futuro. Os resultados dos eventos no futuro são baseados nos resultados dos eventos do passado. A juramento, ou béot, de Beowulf termina com “Gað a wyrd swá hío sceol”, “Uurd (destino) sempre segue como deve ser”.

Mitos sobre o Sumble

Todos devem utilizar o mesmo chifre para beber. Acredite ou não, os Sumbles em Beowulf, na Heliand, Lokasenna, Saga de Hakon, o Bom, não mostram um chifre central sendo passado. Ao contrário, múltiplas canecas ou copos são mencionados. Cada um tinha o seu chifre ou caneca, e as fontes deixam claro que cada pessoa tinha o seu.

O Sumble dever ser circular. O Sumble definitivamente começa com o anfitrião e a esposa do anfitrião. Contudo, Heimskringla e Beowulf demonstram claramente que não há uma ordem circular para vangloriar-se, nem para os brindes e votos que eram feitos de maneira aleatória. Não há uma ordem em que o chifre ou caneca seja passado em um círculo até que chegue à pessoa inicial.

Você deve usar um chifre para beber. Canecas, tigelas de bebidas (chamadas de “scalon” que é de onde temos a palavra “skal/scal/skoll”), e copos de cerveja são mencionados na Heliand (vide Heliand Fitt 24). Os anglos e os saxões tinham chifres para bebidas, apesar destes serem menos populares do que se imagina. Eles são encontrados apenas nos montes funerários de nobres ou indivíduos de alto valor. Parece que as pessoas comuns (a maioria das pessoas) não utilizavam chifres para beber. A maioria dos das bebidas em Beowulf são servidas em copos ou canecas de cerveja, o que implica que hidromel não era a única bebida alcóolica utilizada.

Hidromel é a única bebida alcóolica que deve ser utilizada em um Sumble. Na poesia em saxão antigo, não existem “salões de hidromel”, mas apenas “salões de vinho”. Em Beowulf, existem “salões de cerveja” e “salões de hidromel”. Além do que está implícito no ponto 3 – de que canecas e copos de cerveja também eram utilizados, o fato de haverem “salões de cerveja” e “salões de vinho” também implicam no fato de que haviam múltiplos tipos de bebidas. Parece que os saxões antigos preferiam vinho e cidra alcóolica. A Heliand em saxão antigo mostra repetidamente que os saxões tomavam vinho e cidra. Em contrapartida, hidromel não é mencionado em nenhum texto em saxão antigo (apesar de que isto não significa que esta bebida fosse desconhecida pelos saxões). A palavra “cerveja” é mencionada em textos em saxão antigo frequentemente.

Fatos sobre o Sumble.

  1. Um Sumble inclui gielps e béots. Um gielp é quando alguém se vangloria de seus ancestrais e feitos do passado. Gielps são seguidas de um béot, uma juramento de fazer alguma coisa.
  2. Um Sumble começa com preces aos Deuses e Deusas, um brinde aos Ancestrais e contém um “bragafull “líder das juramentos”. Em um Sumble, deve-se tentar forjar o próprio Destino ou Uurd.
  3. As canecas, chifres, copos de cerveja são símbolos do poço de Uurd.
  4. A senhora do salão é que serve o vinho, cidra, hidromel ou outro, representa as Normas, ou as Modeladoras para os saxões. 
  5. Um Sumble tem cargos. São eles:
    1. Symbelgifa. O symbelgifa é o anfitrião do Sumble. Este indivíduo senta no trono, dá presentes e reconhece os convidados importantes. É o symbelgifa que define o bregofull ou bragafull.
    2. Ealu Bora. O “ealu bora” (portador da cerveja) é a maior senhora do salão, normalmente a cônjuge do symbelgifa”. É ela quem entrega o copo, caneca, ou chifre para o symbelgifa. Ela carrega o chifre para o symbelgifa, faz elogios e dá conselhos durante o Sumble. Ela faz com que a byrele, ou as byreles “portadoras de copos”, façam o seu trabalho, como descrito em Beowulf, linhas 500-511. A ealu bora serve a primeira caneca já que ela representa Uurd, que é uma mulher (Bauschatz, The Well and the Tree,77).
    3. Byrele. São as portadoras de copos. Elas são mulheres que representam as Normas/Modeladoras. Elas servem as pessoas, assim, tornando-as parte da uurd coletiva.
    4. Þyle. Um þyle aconselha a o symbelgifa e deve desafiar as vanglórias que ele/ela acredita que não serão cumpridos. Em Beowulf, Unferþ é o þyle que desfia Beowulf, questionando suas habilidades de completar as tarefas que ele promete cumprir. Este desafio é feito na tradição do flyting, já que juramentos imprudentes podem ter consequências negativas. Uuden[1] aparece como um þyle nos versos 80 e 111 do Hávamál. Um þyle deve ser alguém com muita sabedoria.
    5. Scop. O scop recita poesia. Os contos antigos do grupo trazem à tona a uurd coletiva do grupo. As canções do scop servem como um gielp para as pessoas presentes.

Ordem do Sumble

  1. Os convidados entram no Salão. O symbelgifa leva as pessoas para os seus assentos, então, o Symbelgifa senta-se nseu lugar.
  2. Discurso do symbelgifa. O symbelgifa abre o Sumble com um discurso. O conteúdo é livre, mas sugere-se que seja sobre a relação entre o symbelgifa e os convidados. As palavras finais podem ser parecidas com aquelas de Beowulf, linhas 398-400: “Senta-te agora para o banquete (Sumbel) e quando a hora chegar, volta o teu pensamento à vitória pelos Hrethmen, como teu coração instigar”[2].
  3. Discurso do ealu bora. A ealu bora entra com o chifre (ou o que quer que seja) em mãos. Ela cumprimenta os presentes e oferece o chifre para o symbelgifa. Logo após ela cumprimenta os presentes e faz um discurso com o objetivo de enaltecer os convidados e a sua presença,  Beowuf linhas 1011-1025.
  4. Bregofull. O symbelgifa faz bedes (preces), seguidas de um minni para os ancestrais. Um minni é um brinde de recordação. O bregofull é a vanglória de conquistas passadas que são inclusas no minni.
  5. Entrega de presentes. Presentes podem ser entregues aos presentes.
  6. Léoð. O scop canta uma canção em homenagem ao symbelgifa ou aos Deuses ou ao povo. Esta etapa é opcional.
  7. Vanglórias. Neste momento os participantes vangloriam-se de algo ou fazem brindes ou juramentos de maneira aleatória, não há uma ordem a seguir.
  8. Fechamento. O symbelgifa faz um minni final aos ancestrais assim que todos tiverem terminado de fazer seus juramentos, vanglórias ou brindes.

Lembrando que o Sumble é um evento para ser feito em grupo. O objetivo é unir os participantes no caminho de Uurd, criando vínculos através da troca de presentes e juramentos, brindes, homenagens. Ou seja, a pratica do Sumble é obrigatoriamente coletiva. Um Sumble jamais deve ser praticado de maneira solitária. Para isto, fazemos um Blot.

Traduzido e adaptado do texto de Robert Saas.
Post original: https://www.aldsidu.com/post/how-sumble-was-done-historically

Fontes:
Eric Wodening em seu artigo Um Sumble Anglo-Saxão (An Anglo-Saxon Symbel);
Steve Pollington em seu trabalho acadêmico O Salão (The Mead-Hall);
Paul Bauchatz’s em seu trabalho acadêmico O Poço e a Árvore (The Well and the Tree);
J.R.R. Tolkien com o livro Beowulf – Uma Tradução Comentada e Heimskringla Saga.


[1] Uuden é como o nome de Wodan está escrito nas fontes em saxão antigo. Decidimos manter esta escrita para não alterar muito o texto original.
[2] Tradução de Ronald Eduard Kyrmse – Beowulf – Uma Tradução Comentada, J.R.R. Tolkien.

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