Trundholm Sun Chariot, 1400 BC, Dinamarca |
Dentro das linhas atuais de crenças e cultos dos antigos deuses no norte europeu, sempre se são citados os deuses e seus animais mais famosos como lobos, gatos, corvos, ursos, entre outros, e acabam passando despercebidos os cavalos, talvez por razão dos tempos atuais em que vivemos onde esse animal muitas vezes acaba sendo substituído por carros, maquinas agrícolas, transporte publico, e acaba perdendo sua importância dentro da sociedade moderna muitas vezes se tornando apenas a atividade recreativa de final de semana de alguns poucos como passeios a cavalo no campo, hotéis fazenda ou como força de trabalho em pequenas fazendas de produção familiar, mas mesmo assim, mantem seu status de nobreza, e força.
Aqui vamos compreender a importância do cavalo para a sociedades germânicas e nórdicas e as raízes dessas crenças a partir da historia e tradições de raiz indo europeia, então vamos lá.
Massleberg Skee, Bohuslän, Suécia. |
Indo-europeus
Os cavalos que temos atualmente são todos descendentes dos cavalos que os antigos indo-europeus haviam domesticado, e não é surpreendente esse animal ser um dos grandes símbolos do culto desse povo, sendo ligado principalmente a realeza e ao sol, com ritos envolvendo os reis e o sacrifício de cavalos brancos ou cinzas que simbolizavam o sol, e o seu sacrifício se relacionava com o rei e a fertilidade da terra, cavalos também estavam relacionados com o submundo, indícios arqueológicos, uma das primeiras culturas indo-europeias chamadas de yamnaya ( c. 3300 - 2600 a.c) carroças eram enterradas junto com o morto em uma espécia de rito funerário, ja os primeiros enterros de cavalos foram encontrados nas regiões onde o povo Samara (c. 4000 - 3000 a.c), túmulos de cavalos são encontrados em vários regiões de várias culturas indo europeias diferentes como os Sintashta ( c. 2050 - 1750 a.c) onde cinco cemitérios foram documentados a partir do terceiro milênio, acredita-se que foi o povo Sintashta que desenvolveu a carruagem de guerra, que se tornou tão importante dentro da cultura desse povo que acabou assumindo o papel antes exclusivo do cavalo, um simbolo do Sol.
Apesar da carne de vaca também ser consumida, a carne de cavalo tinha um papel muito mais importante dentro dessa cultura, os cavalos foram sacrificados aos deuses mais do que qualquer animal, alguns estudos sobre as origens das palavras do proto indo-europeu, indicam que a palavra domar tenha ligação direta com estupro, mostrando a ligação cultural desse conceito, ja que dentro das culturas indo-europeias a mulher deveria ser "quebrada", domada, e uma das formas que isso era efetuado era o estupro, como é revelado em algumas pinturas em paredes que relatam esse ato, onde cavalos eram estuprados de forma ritualística.
Índia
o Ashvamedha era o antigo ritual divino dos reis indianos para provar sua soberania, que ia da lua nova a lua cheia, assim como o Jöl nórdico, que também envolvia o sacrifício de cavalos, porem o ashvanedha começava na primavera, e levava um ano para sem concluído, não existem faltas de fontes descrevendo em detalhe tal ritual, como o Shatapatha Brahmana, Yajurveda, Mahabharata 14 e o Ramayana, onde o Brahmana o retrata como um ritual de expiação de pecados em quanto o Ramayana o retrata como um rito de fertilidade, mas nos dois casos eles estão relacionados com a expiação, a pureza do espirito e o aumento da fertilidade, os textos relatam que eram um grande ritual que envolvia a presença de milhares de pessoas, e culminava no sacrifício de 636 animais, sendo o mais importante deles um garanhão branco, que simbolizava o sol, que só poderia ser sacrificado por um rei da casta Kshatriya para conceder fertilidade e prosperidade ao seu povo, esse garanhão ficava livre durante um ano caminhando por toda a terra, e no final de um ano era sacrificado nesse grande evento, esse ato representava a trajetória do sol durante o ano culminando no sacrifício que representava o domínio do rei sobre essas forças cósmicas e a expiação dos pecados do ano, o rei representá o Deus Indra, deus da casta dos Kshatriya, a casta dos reis guerreiros, e deus do céu que envia as chuvas para fertilizar a terra, assim como o rei no ato do sacrifico do garanhão inunda seu povo com prosperidade e expia seus pecados, o animal era preparado, sacrificado e sua carne era distribuída aos mais nobres presentes, e sendo consumida ali, os mais pobres também recebiam alimentos, mas não a carne de cavalo, ja para a fertilidade, os textos mostram que a rainha deveria acasalar com o garanhão, e muitas vezes isso pode não ter sido de forma simbólica, no ritual conhecido como Ashvamedha Yajna, a rainha era guiada em uma procissão onde ela era penetrada por um membro decepado de cavalo ou fazia sexo ao lado do garanhão morto (Shatapatha Brahamana 13.5.2.1 - 10), existia uma versão posteriores desse ritual em quem o cavalo era substituído por um membro de uma alta casta que deveria ser sacrificado ou sua vida trocada pelo sacrifício de 1000 vacas e 1000 aves, Purushamedha nesse ritual, a pessoa sacrificada era estrangulada em quanto fazia sexo com a rainha.
Roma
O Cavalo de outubro era um antigo rito romano de sacrifício oferecido ao deus Marte realizado anualmente no Campus Martius, em roma no dia 15 de outubro, existem quatro relatos sobre ele feitos por Polybius, Plutarco, Festus e Paulus Diaconus, o cavalo direito de uma carruagem vencedora de uma corrida era sacrificado com uma lança, e sua causa era levado em uma procissão pela cidade e depositada em um altar na cidade, semelhante ao Ashvamedha, esse rito servia para agradar o deus Marte para que ele concedesse vitorias e prosperidade para Roma, César ressuscita o antigo rito romano de sacrifico humano para restabelecer a realeza romana, e o substitui por um cavalo, mostrando a clara relação com o antigo rito indo-europeu assim como o Purushamedha indiano e a importância do cavalo dentro da cultura e seu simbolismo solar e ligação com a realeza.
Gregos
Palsanius descreve um antigo rito com cavalo na antiga Grécia, o rei espartano Tundarius, que sacrifica um cavalo e faz sua meia irmã ficar em pé entre os pedaços do animal e jura lhe proteger, mais uma vez ligando o sacrifico de cavalos a nobreza, existe também o mito em que Deméter se disfarça de égua para escapar de Poseidon que se transforma em um garanhão e a estupra, reis faziam sacrifícios de cavalos brancos ao sol e a Poseidon, e frequentemente jovens que foram estupradas e posteriormente se suicidavam recebiam sacrifícios de cavalos em seus túmulos.
Citas
Heródoto fez um dos poucos relatos que posteriormente foi confirmado por achados arqueológicos, durante o funeral de um rei suas concubinas eram estranguladas e mortas, assim como o cozinheiro, o cavalariço e o mensageiro e uma boa quantidade de cavalos, e enterrados com uma boa quantidade de bens de valor, o relato é muito semelhante a um relado de 1400 anos depois que um árabe fez sobre um rito funerário do povo Rus que será debatido mais a frente, não seria supresa se herodoto tivesse deixado de mencionar que as concubinas estranguladas ( de forma muito semelhante aos relatos Idn, e do rito purushamedha onde a vitima ao ser estrangulada era estuprada pela rainha).
ilustração de Gerald of Wales Irlanda (1188).
Relatos preservados do século XII escritos pelo arquidiácono Gerald Wales, como cristão, Gerald desprezou a tradição, portanto a fonte pode não ser totalmente precisa, mas é muito parecida com outros exemplos já discutidos aqui, o relado diz que em Úlster, as pessoas reuniam-se para nomear o seu novo rei, uma égua branca que representa o povo é levada até o homem que se tornará rei, e ele precisa fazer sexo com o animal, após isso o mesmo é sacrificado e sua carne é cortada em pedaços e cozida em um caldo, então o rei entraria nesse caldo e se banharia nele rodeado pelo seu povo, então ele beberia o caldo e distribuiria os pedaços de carne ao povo, mais uma vez vemos um ato que representa a generosidade do rei para com seu povo e ajudando assim a criar um vinculo entre governados e governante.
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